domingo, dezembro 2

Liturgia letárgica, letargia litúrgica

As palavras de um padre numa missa nonsense, os olhos embaçados, o corpo todo dormente; a dor não mente: algumas perdas nunca farão parte de jogo algum. São eternas.

terça-feira, outubro 23

A volta

de: Fragmentos


No ônibus fio condutor, ligação direta até o espaço aéreo controlado, mãos trêmulas montam cuidadosamente um grande quebra-cabeças, inicial, criado pela mais virgem-loba entre todas. Pela janela, o canto da menina percebe o amarelo correr em linha reta sob cinzento azul celeste. Preparando-se para partir desta que ainda possui um fio, perdido, de maravilha. Negra, porém, é o maravilhoso fio, desta feita, que vai ficando para trás. Ficando. À caminho da mátria garoa ácida, sentindo o debater das asas de borboletas previamente engolidas, corre contra os mais invencíveis adversários, temporal e atemporal. Volta e ida são um só, de mesmo gosto.

Afunda-se em letras quase desordenadas, este quebra-cabeças único. Mas, ocre, a cabeça não larga. Memórias, pensamentos. São saudades. E saudades, com suas mãos grosseiramente fortes e pesadas, cruelmente lhe esmaga, paulatinamente, coração e pulmão. A morte é certa, iminente. E ao chegar, como esperado, não lhe tira a vida.

quarta-feira, setembro 19

Um sem título...

Do balcão, eu a vi entrar. O que ela fazia num lugar como aquele? Seria uma ilusão causada pelo excesso de cerveja e de rabo de galo? Olhei a minha volta. Sim, eu estava no boteco do Alfonso, um boteco dos mais sujos e podres que há. Os mesmos poucos bêbados de sempre continuavam lá e todos pareciam olhar em direção a porta, o que me fazia crer que ou estavam tendo a mesma visão alucinógena que eu, ou ela realmente estava ali.
Quando sua boca se abriu e sua doce voz perguntou, com um sorriso, para o Alfonso se estava tudo bem e ele, do outro lado do balcão, garrafa de cerveja em mãos prestes a me servir, sorrisão largo, respondeu com um oi meu amor, eu senti minha jovem coronária querendo entregar os pontos.
Pela qüingentésima vez, medi-na à distância. Dessa vez, porém, com mais propriedade. Calculei altura, tirei sua roupa, apalpei sua carne dura e fresca. Chutei uns vinte anos. Imaginei-a em seu esforço diário na academia, suada, molhada, bochechas rubras. Senti sua língua macia e revigorante percorrendo-me a boca, o doce cheiro do ocre vaginal, sua voz em meu ouvido chamando-me para o abate. Pude senti-la quente. Senti-la minha.
Gozamos juntos, gritos que horrorizaram quatro quarterões.
De volta ao balcão, puxei um cigarro do bolso, acendi. De olhos fechados, traguei forte, traguei profundamente. Senti a nicotina e o tabaco entrar em cada veia de meu corpo.
- Beto. Beto! Essa é a Julinha, minha filha. Chegou ontem do interior.

terça-feira, setembro 18

sexta-feira, setembro 14

Relaxe, vai...

... ou relaxa e vai.

by Aline OS

Homenagem póstuma

Luiz Inácio era um sujeito aprazível. Mezzo inculto, de educação pouco talhada, sempre teve a seu favor um forte carisma, uma grande capacidade discursiva, o que lhe tangia, conseqüentemente, uma invejável retórica, e, por que não, uma diferenciada inteligência.
Lutava contras as elites oligárquicas, pela massa, com o povo.
Sujeito simples, sempre, porém.
Sabidamente, inscreveu na pedra filosofal da política do Bostlândia, país no qual nasceu, viveu e fez nome, a inegável e imutável afirmação de que o poder legislativo local era formado apenas por picaretas (à época enumerou mais de 300) com chapéu de doutor.
Oposicionista incansável, era de uma utilidade pública primordial, ainda que longe de unanimismo e de unanimidade.
Faleceu nos idos da década de ’90 afundado num sonho de grandeza excessiva e numa não rara crise de “egoite”

Hoje, se ainda vivo fosse, certamente contribuiria, com sua eterna forma torta, para fazer-nos lembrar que a morte das casas legislativas nacionais e, de uma certa forma, da política local em geral, não só não é de se espantar, como vinha sendo anunciada há anos, e somente as mulas (lê-se toda a população, o que inclui eu e você) não queriam admitir, fingiam não ver.
Se antes eram todos picaretas, porém com seus respectivos chapéus de doutorado, hoje temos populares, transeuntes, como cantores brega, ex-esportistas, costureiros bregas metidos a estilista, corruptos e corruptores assumidos, etc.
Luiz Inácio faria as Casas se incomodarem muito mais do que as reportagens de jornal o fazem.

Sua morte foi, portanto, a grande responsável pelo o que vivemos hoje.
Fica aqui minha homenagem ao falecido.

quarta-feira, setembro 12

Afogados...

- E aí, aonde você vai?
- Tomar uma breja.
- Agora?
- É. Para esquecer...
- A aula começa em meia hora.
- E?
- Como assim “e”? Não é você que é cheio de moral para dar, não falta, futuro do país nas nossas mãos, etc?
- Moral de cu é rola. O país você não muda. Não mais. Nunca. Nem você nem uma legião de famintos. Nada muda essa merda. Então vá encher o saco de outro.
- Tá mal-humorado, é?
- Não. Tô apenas doido para tomar uma breja e você aqui, empatando na minha.
- Desculpe preocupar-me com você.
- Desculpado. Agora com licença, porque se eu quiser me prejudicar, o único prejudicado serei eu e as pessoas que querem passar o resto da vida ao meu lado. O país não depende de mim, nem de você, nem de ninguém. Aliás, se não tivesse tão pouca idade, desvirtuara você agorinha mesmo para uma cerva.
- Que boteco que você vai?
- Do Antunes, claro.
- Tô dentro.
- Não. Você tem que assistir aula, tem um compromisso com seu futuro e...
- Opa! Peraí! Futuro de quem? Meu? Então não enche o saco porque moral de cu é rola. Além do mais, também preciso esquecer.
- Boa.
- Vambora.

Senhor(es) Ca(va)lheiros...

Cético, toda sua atenção hoje estará voltada à sua canhota orelha, onde ele afixará seu pequeno radinho AM, a pilha. O medo lhe bambeia as pernas, assalta-lhe o ar. Até o fim do dia saberá se luto negro surgirá pela última pá de cal tristemente jogada sobre aquilo que um dia chamava de esperança.

Curioso, porém, é que, se negativa sepulcro derradeiro representa, afirmativa não servirá para retirar sequer uma pá de terra de sobre túmulo algum. E se esperança continuará a sete palmos, ainda assim, hoje pode ser, emblematicamente, o dia mais significativo para quem, por motivos irracionais, ama esta mátria terra.

A esperar, a esperar...

quinta-feira, setembro 6

Ressurreição?

Há alguns anos, fui a Lua. Como todos presumem ser a Lua uma esfera inabitada, revelo, perplexo: de desabitação o inferno está cheio. O trânsito local é caótico. Fluxo ininterrupto de um populacho esquálido vindo não sei se por qualquer programa secreto do governo estadunidense, ou se lá esquecidos por um extinto programa da extinta soviestikaia.
Máscaras não se usam por lá. O oxigênio é raro e o efeito devastador: morre-se vivo em poucos segundos. E morto vivo é aquilo. Nada há em lugar nenhum para ninguém fazer/ ser.
Durante os quase sete anos de residência lunar, esqueci que Terra abaixo há.
Pois ao retornar, minha readaptação foi quão mais demorada, morosa e paulatina que o previsto, pois deixei cor por lá.

Bárbaro é, tantos meses passados, renascer, mesmo que puxado por anjo cético e sádico, que descobriu na dor a ressurreição. Mas se bárbara é a dor, tal bárbara é a vista de sentir o corre-corre sangüíneo que me pergunto: se eu posso ressuscitar, por que isto aqui deve permanecer putrefazendo assim?

Vamos tocar o barco, pois.

segunda-feira, abril 16

Massante

É, eu sei. Você não vem aqui para ler sobre política. Mas as coisas pululam em minha frente de tal forma, que é impossível fugir do tema.

Afinal, o que você espera que eu faça/ pense ao ler “crítica a carga tributária é choradeira, diz FHC” (fonte: Terra Magazine)? Que eu ignore? Que eu finja que isso não é nada? Ou que eu concorde?
Aos mais, digamos, interessados em vidas alheias, um amigo meu disse que o ganhador da última edição do Big Brother levou para casa “apenas” R$ 725 mil. O resto, a bagatela de R$ 275 mil, ou, absurdos 27,5% do valor ganho, ficou com o governo, através da absurda, obscena carga tributária que pagamos.
E pagamos para que?
Para que o governo possa pagar propina aos deputados, senadores, donos de empresas, para que assim eles façam o que bem entender com nosso país? Ou pagamos para que haja um investimento descente em educação, saúde, etc? Veja o caso da CPMF. É o imposto sobre o imposto (ou você ainda não percebeu que além de pagar impostos altos por tudo que você compra, você ainda paga um imposto extra apenas para usar o dinheiro que havia lhe sobrado depois do governo já ter beliscado aquela fatia generosa?), mas a saúde...

Aí eu lanço uma campanha para que nossos governantes tenham bacharelado (no mínimo) em alguma matéria relacionada ao seu cargo, e vem esse FILHO DA PUTA do ex-Presidente falar que a crítica a carga tributária é choradeira? Claro, ele já viveu isso, já esteve no poder e sabe como é importante o governo ter dinheiro suficiente para propinas (ou vocês se esqueceram como a lei que permite a reeleição presidencial passou pelo congresso?). Nosso dinheiro.

FHC deveria ser preso.
Na mesma cela de seu ex-amigo na luta pelas diretas, o Lula.
Farinha do mesmo saco.


Viva Manuela D’Ávila. A luz no fundo desse túnel nojento.

sábado, abril 14

Burro

O governador de São Paulo, José Serra, errou uma conta de matemática nesta sexta-feira ao defender o ensino de tabuada nas escolas públicas. Durante visita ao hospital infantil Darcy Vargas, na zona sul, ele "Digamos que custe R$ 0,35 o tomate. Aí você tem oito tomates, dá R$ 2". Percebendo o erro, o governador consertou a multiplicação em seguida: "quanto eu disse que era o tomate? Dá 280, 240, R$ 2,80".
Fonte: http://noticias.terra.com.br/brasil/interna/0,,OI1548176-EI7896,00.html

O Burro, assim mesmo, na maiúscula, não é o governador. O Burro, somos nós, que insistimos não só em colocar PSDB ou PT lá em cima, mas vamos além. Colocamos sempre os mesmos. Os mesmos que provam, dia ante dia, por A + B, que são incompetentes, inclusive moralmente, de adiministrar essa nave.
Repito, e insisto: o sujeito é formado em (medicina) engenharia e em (medicina) engenharia não há uma, ou melhor, não há meia aula de nenhuma materia relacionada a Humanas, só Biológicas. Sociologia, adnimistração, filosofia, política... Nada. O sujeito não estoudou nada. Mas é governor, eleito, reeleito, trieleito. Burro? Não, ele, definitivamente, não.

É por essas e outras que defenderei, cada vez com maior intensidade, seguinte tese:
- Se para se eleger a uma vaga de programador você deve ser formado na área;
- Se para conseguir entrar num jornal você deve ser formado em jornalismo;
- Se o médico só consegue medicar, praticar a medicina, com a formação específica;
Fica a pergunta: por que médico, costureiro, capitão e outros podem concorrer a cargos públicos elegíveis para administrar as naves por aqui?
Não seria o óbvio, o lógico, o sensato e o correto que houvesse uma lei, constituinte, que ordenasse "para concorrer a cargos públicos elegíveis, em qualquer nível, o sujeito, além de brasileiro, afiliado a um partido, etc, etc, deve ser bacharel em administração, sociologia, filosofia ou política", sendo esse último um novo curso que deve ser criado.

Particpe dessa campanha você também. Divulgue.

Atualização (16/04/07):
Graças a Dani, corrigi meu erro. Realmente, formado em medicina é o outro. Esse é formado em engenharia. Alías, esse é engenheiro, o outro é médico, tal é torneiro mecânico...
Complicado.

terça-feira, abril 10

Ventilador de teto

Outro dia, deite-me na cama, completamente bêbado, e fiquei observando o ventilador de teto a girar (antes só o ventilador do que o quarto todo). Quando a Julinha entrou no quatro, viu-me de olhos arregalados, fixos para cima, perguntou desleixadamente:
- Tudo bem aí?
Respondi qualquer coisa que na minha cabeça deveria soar como um “tudo ótimo”, mas não sei ao certo o que saiu.
- Tá fazendo o quê? – com meio sorriso na boca e nas palavras.
- Nada, tô vendo o ventilador girar...
- Que ventilador?
- O de teto, oras bolas...
Então ela começou a rir, rir muito, e veio com um papinho de que não temos ventilador no teto, que eu estava completamente bêbado, para eu não vomitar na cama, que ela não sabia que álcool era alucinógeno. Foi falando e saindo do quarto. Nem tive tempo de retrucar que ela só podia estar louca, afinal, sempre tivemos um ventilador no teto do nosso quarto.
Voltou com uma garrafa de um frizante qualquer em mãos. Sem taças, bebia no gargalo.
- Julinha, meu amor, desde quando não temos ventilador no teto?
- Desde sempre.
- Você só pode estar louca...
Resmunguei, virei e dormi.


Dia seguinte, acordei tarde. Olhei para o teto, sem ventilador. Em seu lugar, uma luminária nova, bonita e que eu nunca tinha visto antes.

Sei não, mas a Julia as vezes me assusta.

domingo, abril 8

Chocolate nos dedos

Há uns 28 séculos atrás, quando eu ainda era uma pequena criança, lembro que ia com meus pais ao supermercado, às compras, mas não lembro de absolutamente nada que se passava dentro, durante as compras. Menos ainda eu me lembro do que ocorria no caminho, fosse na ida, fosse na volta. Mas de uma coisa eu bem me lembro. Era o momento da chegada em casa, quando eu, ansioso em ajudar meus pais a desempacotar as compras, vinha ao cúmulo de rasgar alguns sacos (época em que só existiam nos mercados sacos de papel...). Claro que tudo na vida tem um motivo e eu nunca me esquecerei o que me imbuia a tal ato...
Não durou até os anos 90.

Bom, não sou católico, não sou judeu, não sou evangélico, ou isso, ou aquilo. Sou... foda-se, né? Não importa o que sou, o que deixo de ser. Importa que esses três últimos dias nada mais foram para mim senão um feriado. E, claro, uma ótima oportunidade de comer e beber bem (beber beeeeeeem), além dos chocolates mil que se ganha.

Tudo começou semana retrasada folheando uma revista que se julga mais interessante que realmente o é. Foi em uma das primeiras páginas que vi uma propaganda que mexeu comigo e me fez reviver o sentimento descrito no primeiro parágrafo.
Gritei:
- PUTA QUE O PARIU! OLHEM O QUE VOLTOU!

Fiquei hipnotizado.

Claro que não esperei até esse (mal)dito feriado chegar para voltar a sentir o sabor de quem acabará de voltar do supermercado com os pais.
Ah, foda-se: bendito feriado.

quinta-feira, abril 5

Sensações musicais

Engraçado esse negócio que acontece com a música e ela. Ela, não sei bem como, não as ouve música. Ela sente. Ela me diz que a música parece que lhe entra pelos poros, pelo nariz, vai ao sangue, atinge pulmões, aperta ou afrouxa o coração.
Foi por isso que ela ouve desde Trio Virgulino até, deixe me ver... Metallica.
Eu acho isso engraçadíssimo, curioso. Principalmente pelo fato de que eu não ouço nada cantado em inglês. Não é preconceito, é mania. Eu não entendo o que esses gringos cantam, então prefiro não ouvir, sabe? Ouço MPB, forró, baião, essas coisas.
Mas ela não. Além de ouvir MPB, essas coisas, ela ouve Metallica. Ouve outras coisas também, que para mim nem música são, aliás. Influencia do pai. Incrível como o pai dela era. Só ouvia essas porcarias de rock pesado. Adorava aquele tal de Kiss. Um horror.
Mas, enfim, eu falava dela, porque ela sente a música, vai além de simplesmente ouvir. Sente. Quantas e quantas vezes eu já não a peguei chorando, só por causa da música que estava tocando, eu já nem sei. Parece que a música, talvez mais do que um amor perdido, pode machucá-la. Claro que também pode animá-la, fazer o inverso com ela. Aliás, curioso como a música tem o poder de fazê-la mudar de humor. Ela pode ir da tristeza, do desânimo, para um ânimo sem fim. Como pode fazer o inverso, pode machucá-la. E isso que me atormenta um pouco. Eu vivo falando para ela:
- Filha, porque você ouve esse disco, se você sempre chora com ele?
Mas ela diz que eu não entendo, que eu isso, que eu aquilo.
- Mãe, sabe que o simples fato de você não entender isso me deixa aliviada?
Não entendo mesmo. E não concordo. Mas ela gosta, faz bem para ela. Vai saber.

...

Demorei dois anos para aceitar, entender e/ ou gostar do mais recente CD do Zeca, Baladas do asfalto... Tudo porque a característica que mais gosto nas músicas do Zeca são a diversidade, e a riqueza sonora e cultural (musicalmente falando), coisas completamente inexistentes no Baladas do Asfalto..., algo que sempre julguei como preguiça, desleixo ou qualquer coisa que o valha. O CD não me descia. Eu não tinha paciência para ouvi-lo ou para sequer tentar fazê-lo.
Essa semana, curiosamente, do nada, devido a algumas pessoas, tive que ouvir o CD. Eis que, de repente, ouço um click em algum lugar perdido no tempo e no espaço e o CD fez todo o sentido para mim. Musicalmente ele continua igual, faltando algo em relação aos trabalhos anteriores do Zeca. Porém eu entendi o disco. E isso fez toda a diferença.
A falta da diversidade e da riqueza cultural sonora não é preguiça, desleixo, nem nada que o valha. É a angústia. O CD, aliás, é a angústia em si só. Não faz sentido se posto com outras obras do Zeca, senão Líricas, mas isso não lhe tira qualidade. Pelo contrário, tem valor.

O problema é o pré-conceito.
Sempre que ouvimos algo de qualquer artista que conhecemos, antes da música começar, armamo-nos com todos os conceitos que temos do artista.
Ideal seria despirmo-nos de nossas ideologias musicais, dos conceitos por nós pré-estabelecidos. Só assim, quando o fiz, consegui achar o valor do Baladas do asfalto...

segunda-feira, abril 2

Ferrugens?


O negocio funciona mais ou menos assim: eu tento escrever algo para alguém tentar ler e... Nada. Não sai, não adianta.
Mas eu quero. Quero conseguir novamente e conseguirei. Sei que sim.
Porém, enquanto isso...

Esse é velho, de fevereiro do ano passado, mas não publiquei aqui, acho eu. E se não o fiz, até sei o motivo: está uma merda. Mas se o que tem saído ultimamente e bem pior que isso, vamos com isso então.
Segure aí:

Maldita chuva

Ele saiu na varanda do apartamento e acendeu o último cigarro do maço. Era domingo, feriado, e não teria uma bosta de uma padaria por perto para que ele comprasse um novo maço. O pior, ainda era cedo, mal passava do meio dia, e ele teria que ficar o resto do domingo sem colocar um outro cigarro na boca.
Como pôde esquecer de comprar um maço na noite de ontem? Incrível! Como pôde? "Ah, sim" - lembrou. Ele não sabia que o maço estava no fim. Foi para a festa da Fernanda, naquele barzinho bacana, e seu maço acabou virando comunitário, a tal ponto que, quando quis fumar, teve que pedir um cigarro para o André, com quem estava seu maço. Mas, na hora, “foda-se”, pensou ele. Afinal estava com a galera, bebendo, se divertindo e, para melhorar, estava beijando a Ágata, com promessas de um pernoite acompanhado.
Bom, o pernoite não rolou. Ágata, putinha fresca da porra, caiu fora na última hora. “Amanhã tem feira perto de casa e tenho que acordar cedo para acompanhar minha mãe. Ela não agüenta mais fazer a feira sozinha. Desculpe”, foi a desculpa dela. E para piorar, agora isso: sem cigarros: “Que merda!”.
Foi exatamente nesse cenário que um raio qualquer caiu em algum poste sem que ele soubesse. E, mesmo com ele não sabendo, foi exatamente esse maldito raio que o deixou completamente sem luz, sem radio, sem televisão, sem computador, sem micro-ondas. Então decidiu sair, pegar o carro e ver no que dava. Pelo menos uma companhia ele teria, através do rádio.
Parou num posto, comprou cinco maços de cigarro e três cervejas geladinhas. Sentou no carro, dentro do posto, mesmo. Acendeu um cigarro e fumou como se fosse um orgasmo. O segundo cigarro, aceso na seqüência, foi acompanhado pela primeira latinha de cerveja. Foi então que o rádio começou a tocar um velho som do Iggy Pop, que o fez lembrar a adolescência, época em que namorava a mulher mais linda da turma, por quem até hoje sente certa paixão.
“Não é fácil chegar aos quarenta”, lembrou, “mas aos cinqüenta, puta merda, que foda!”.
Quando acordou, já era noite, a chuva já tinha passado e o banco do carro estava com um novo buraco de cigarro.
Voltou pra casa, com a esperança de que a luz já tivesse voltado.

domingo, abril 1

Desenferrujando

Tal qual uma peça de metal largada a beira do mar por anos, ao léu (não poderia haver palavra mais propícia nesse momento), que aos poucos vai sendo corroída pela ferrugem, endurece, perde seu movimento, cá estou, sentado a frente do computador por dias, na base do café, tentando escrever um texto, um textozinho qualquer, um parágrafo que seja, mas não sai nada.
Certamente porque no último ano eu era exatamente a tal “peça”, parado, ao mar, distante do mundo das letras, atrofiando minha imaginação.
Mas agora eu estou, paulatinamente, retomando minhas atividades cerebrais. Já voltei a pensar, já voltei a ler. Só estou emperrando nessa maldita tentativa de voltar a escrever...

Ótimo assunto para esse 1° de abril.