quinta-feira, dezembro 30

A escuridão

....A cidade toda dormia. Eu não.
....Fiquei sentado o tempo inteiro em frente a janela, olhando a escuridão do céu, que era o reflexo do escuro que tinha no meu coração.
....Aos poucos, outras pessoas foram acordando, pessoas felizes, com o coração mais leve que o meu, mais claro que o meu. E o reflexo dos corações deles foi, aos poucos, ficando mais forte que o meu, e o céu foi clareando.
....Então fiquei sozinho ali, em frente aquela janela. Escuridão, somente no meu coração. Nem o céu mais queria saber de refletir a escuridão de meu coração.

Meditação

Aprendi, mês passado, que para meditar, basta vc estar completamente voltado para algo, seja esse algo o que for. Com essa informação, descobri que medito com uma certa frequência, quando sentado num ônibus, num trem ou num metrô qualquer, eu ouço meu walkman de olhos fechados e deixo a música tomar conta de mim. É uma delícia. Vc já experimentou? Claro que não é qualquer música que consegue me envolver dessa forma. Tem que ser uma música que faça meu cérebro trabalhar de alguma foram, ou várias (o que prefiro). Exemplos de bandas que conseguem isso, com letras bacanas, na qual você tem prestar atenção para entender, e músicas ricas em sons e qualidade são o Nação Zumbi, o Radiohead e o Los Hermanos.
Porém hj, no metrô do Rio, eu coloquei Lenine (Na pressão) no meu walkman. Devo antes dizer que adoro o CD citado. Ouço direto, mas nunca tinha "meditado" com ele. E hoje eu me deixei levar e viajei no som dele. Bom pra caralho!!! (desculpem a expressão).
Essa viagem, que a música me permite, é uma experiência única e indiscritível. É divino. Sempre me sinto renovado.
Dessa experiência de hoje, fica o seguinte belíssimo poema de Lenine:

A medida da paixão
É como se a gente não soubesse
Pra que lado foi a vida
Por que tanta solidão
E não é a dor que me entristece
É não ter uma saida
Nem medida na paixão

Foi, o amor se foi perdido
Foi tão distraido
Que nem me avisou
Foi, o amor se foi calado
Tão desesperado
Que me machucou

É como se a gente presentisse
Tudo que o amor não disse
Diz agora essa afflição
E ficou o cheiro pelo ar
Ficou medo de ficar
Vazio demais meu coração"

quarta-feira, dezembro 22

Saudades

É. Faz tempo.
Faz tempo que não passo por aqui.

Bateu a saudade.
Faz tempo que não dou um alô, não escrevo aqui. Espero que meu blog não tenha ficado com ciúmes do blog que criei com a Ela ou do meu texto ter sido publicado em um site bacana.
De qualquer forma, voltei. Estava com saudades de escrever aqui.
Pode parecer besteira isso, mas a verdade é que no Nós no Rio, uso outra linguagem, outro formato, outra inspiração. A mesma coisa em textos que escrevo quando tento fazer com que eles sejam publicados em algum site.
Aqui eu tenho procurado puxar uma veia mais poeta ou mais filosófica (se bem que acho que toda poesia tem muita filosofia e toda filosofia tem muita poesia) que eu sei que não tenho, mas insisto em buscar.
E para retomar, resolvi publicar o texto abaixo. Simples, básico, porém do qual admito gostar e que escrevi a um certo tempo, porém se faz muito atual:


"Descobri que tenho muito ainda a crescer para enfrentar esse mundo que é/está tão distorcido e diferente daquilo, acredito, deveria ser.
O humano é um animal extremamente meticuloso e promíscuo. Não há a menor possibilidade de se confiar em um ser humano.
Nunca confie em um. Nunca!
Você confiaria em você?
Se você diz que sim, precisa abrir os olhos, meu caro. Ninguém é completamente confiável e, sob determinadas circunstâncias, o ser humano é capaz de qualquer coisa para não prejudicar seu ideal, mesmo que seu ideal seja prejudicial a si mesmo. Você mesmo já deve, em algum momento da sua vida, ter tomado algumas atitudes que lhe prejudicavam, atitudes tomadas surpreendentemente por você, para você, mas que no fundo era necessário pois isso lhe faria atingir um algo qualquer que você buscava.
Então, tome cuidado!
Fique atento com os humanos, principalmente com você mesmo."

quinta-feira, dezembro 16

Cores

A camisa, de um azul cinza, veste meu corpo, minha alma cinza.
Caminho olhando o chão. Sobre mim paira um céu cinzento.
Cinzas de um cigarro varrem o chão já cinza.
Um carro cinza passa. O cinza do ar fazem meus olhos lacrimejar.
Meu mundo é cinza. É negro, é branco.
Nesse cinza cruel, meu telefone cinza toca um som metalizado.
Meu alô cinza vai para o outro lado.
Mas o que vem, de cinza nada tem.
Um suave alô, amável, uma flor.
É Ela, com sua vida colorida.
Ela, com seu colorido pincel, colore meu mundo.
E deixa meu coração vermelho de amor.

quarta-feira, dezembro 15

....Ainda não o conheço muito bem. Fomos apresentados na última segunda-feira e, aparentemente, houve um interesse mútuo. Já de cara, no aeroporto, ele tentou se mostrar parecido comigo. Isso realmente me cativou nele, pois temos idéias muito próximas acerca da mulher amada e a busca pela felicidade ao lado dela. Porém hoje, vindo para o serviço, descobri que, no campo literário, na forma como a mulher amada o faz sentir, o que ela representa a ele e como ela o impulsiona para a literatura, realmente é algo que me deixou boquiaberto, pois me pareceu, claramente, que ele contava, a mim, a minha própria história.
....A conversa de hoje foi curta pois o sono não permitiu maiores prolongamentos. Mas foi positiva.
....Se a história que ele conta não foi inspirada em mim e a mulher amada não é Ela, então realmente temos muito em comum. Justamente por isso não vejo a hora de me aprofundar no conhecimento sobre ele para ver até onde vai essa comunhão.
....Então, para quem quiser entender o que me impulsionou a estar aqui, no Rio, ao lado dEla, vá a uma biblíoteca ou uma livraria e leia o primeiro capítulo dele.
....Eu indico.
Sexus
Henry Miller
1949
Cia. das Letras
Tradução de Sergio Flaksman
Primeiro livro da trilogia "A crucificação rosada"

terça-feira, dezembro 14

Mudanças

....Então é isso?
....O ciclo ralmente acabou para o início de um novo e eu fico nesse meio, assim?
....Não sei como será, mas parece que algo de muito bom está para acontecer.
....Hoje, dia 14/dezembro/04 é o dia da mudança.
....Não! O dia foi ontem.
....Foi ontem que eu sai da Claro, no Brooklin, quase na Marginal Pinheiros, direto para Congonhas.
....Foi ontem que eu comprei, finalmente, Sexus, o livro tempestuoso de Henry Miller, e vi que a busca frenética pela mulher amada não é loucura exclusiva minha. Ele, olivro, deu ainda mais sentido a tudo.
....Foi ontem que o avião me deixou no Rio de Janeiro.
....Foi ontem que Ela preparou aquele jantar, com aquele vinho.
....Foi ontem que minha mala cheia de roupas encontrou um novo armário.
....Hoje é apenas o dia em que eu acordei carioca, mas sempre paulistano. Novos companheiros de trabalho nunca substituirão os antigos, os amigos.
....Nova casa, nova cama. Novo estado civil?
....Então é assim que vida muda? É assim a vida a dois?
....Não doeu, nem sangrou.
....Ou melhor, doeu e sangrou, mas não matou.


....Então é isso?
....Se sim, ótimo. Muito mais simples que parece. E gostoso. Muito gostoso.

segunda-feira, dezembro 13

Rascunhos

Numa folha de papel escrita a mão, datilografada ou impressa.
Numa tela de computador, num editor de texto, num bloco de notas ou num e-mail.
Se você começou a escrever, mas não finalizou.
Se planejou, mas ainda não chegou o fim.
Uma idéia na cabeça, ainda mal acabada.
Uma idéia posta em prática que ainda tem muito o que crescer.
Rascunhei no computador.
Alguém, por algum, motivo gostou.
Meu rascunho virou texto pronto para depois virar rascunho. E aí sim ficar pronto.
Meu texto agora está lá, rascunhado graças a Deus.
Acesse e veja meu nome rascunhado, prolongado e alterado.
Mas veja meu texto inteiro, pleno e completo.
www.rascunhos.com.br

sexta-feira, dezembro 10

O amadurecimento de uma fruta

....Presa a uma árvore desde seu primeiro momento de vida, a fruta um dia deve amadurecer.
....O que nos parece um processo natural, é, na verdade, algo dolorido, penoso e muito difícil para a fruta. Afinal, seu amadurecimento passa por fases complexas e, as vezes, indesejadas.
....Em um primeiro momento, ela, que nasceu como uma linda e perfumada flor, deve deixar suas pétalas caírem para se transformar numa saborosa e suculenta fruta. A mudança estética é também a mudança completa e radical da forma como os outros a vêem. Ela, a fruta, poderá levar um longo período até que aceite sua nova forma, mas quase sempre, viverá o resto de seus dias desejando voltar a ser uma flor.
....Passada essa primeira fase, e muitas vezes ainda não refeita da mudança, começa a fase da libertação. A fruta, quando realmente madura, deve sair de onde sempre esteve e ir para um lugar novo e desconhecido, cujo futuro não lhe é revelado. E aí, o que já parecia complicado, toma rumos ainda mais tortuosos. São muitas opções, porém nem todas seguras e agradáveis.
....É claro que vendo dessa forma, todos torcemos, principalmente a fruta, que sua queda seja amparada por alguém que fique embaixo da árvore a lhe segurar em macias mãos ou então que alguém simplesmente a tire da árvore, de forma macia, segura e gostosa, bem amparada.
....Mas e se ninguém ou nada lhe tirar da árvore de forma macia ou lhe segurar, amparando a queda? E se a árvore na qual ela se pendura fica sobre o cimento ou o asfalto? Então, ao amadurecer, a fruta cairá do alto de sua árvore para se esborrachar e estatelar no chão. Mas ela ainda pode estar a beira de um abismo e a queda da fruta pode então levar longos segundos até o total esmagamento, deixando o cenário mais doloroso e sofrido
....Claro, ela pode ter a sorte de estar sobre um campo macio, ter uma queda suave, ainda que ninguém a tome pelas mãos. Mas e se a terra embaixo for batida e seca?
....São tantas opções e tamanha complexidade que é inevitável o medo, a insegurança. Quem sabe até a depressão, a reclusão.
....O que podemos fazer? O que nos resta? Qual seria nossa obrigação?
....Nada. Nenhuma.
....Tudo é uma questão de escolha.
....Eu escolhi parar sob a árvore que tem a fruta mais bonita, doce e suculenta que alguém jamais pôde imaginar existir. A única fruta entre todos que ainda guarda sua porção flor: bela e cheirosa. Não uma simples fruta, e sim uma Fruta. Agora, Ela, a Fruta, está cada vez mais madura e Seu desprendimento da árvore é inevitável.
....Mas e Sua queda? É inevitável também?
....Não necessariamente. Estou me encaminhando o mais rápido que posso para debaixo da árvore. Ainda não cheguei lá, porém a Fruta já sabe que planejo segurá-La. Só que a verdade é que não quero apenas segurá-La. Quero subir na árvore para, com carinho, retirar Seu caule da árvore e trazer a Fruta para junto de mim. Quero descer da árvore com a Fruta em minhas mãos e em segurança. Quero que essa Fruta seja minha e de mais ninguém.
....Mas quero, acima de tudo, que a Fruta saiba que em mim ela pode achar a segurança que procura.

quinta-feira, dezembro 9

....A vida é o suco do limão.
....A ansiedade é a mão que segura a metade cortada do limão, espremendo com força para retirar seu suco.
....A angústia é sentir o suco desse limão lhe escorrer pela mão atingindo com ardor o corte.
....A tristeza é o suco desse limão amargo-passado em contato com a língua.
....A dor é o respingar do limão no olho aberto.
....O limão sem suco é o não.

sexta-feira, dezembro 3

....As vezes, ao respirar, me vem a dor. Uma dor aguda, abafada. Então, fiz pra Ela o poeminha abaixo, sem título.

Dói a distância.
Essa falta de você aqui.
Aqui em meus ouvidos, meus olhos
ou ao alcance de meu tato.
Porque você já faz parte de mim.
E lhe perder, ver-lhe partir
ou ver-lhe ficar me vendo partir
é um amputar.

quinta-feira, dezembro 2

Antítese

....Ele se sentou à frente dela. Estavam mesmo precisando conversar há tempos, mas não tinham coragem e ambos fugiam. Ele respirou fundo e disse, pousando sua mão sobre a dela:
....- Você é a pessoal mais agradável para se ter ao lado.
....- E tu, a mais irritante! - disse ela puxando a mão bruscamente
....- Você é tem o sorriso mais lindo que já vi.
....- E ninguém grita tanto quanto gritas!
....- Você contagia qualquer um com seu bom-humor.
....- E tu, com teu péssimo-humor!
....- Não consigo não pensar em você quando estou feliz.
....- Não consigo não ficar estressada quando em ti eu penso!
....- Seu beijo é o mais doce que já provei.
....- E o teu, tão sem graça, tão curto, tão sem paixão!
....- Seu olhar, meigo e pidão, me derruba.
....- Não consigo olhar pra ti, tamanha raiva que sinto!
....- Nunca amei tanto alguém quanto amo você.
....- Nunca senti ódio tamanho antes!
....- Seu cheiro, sua pele, seu toque.
....- Sinto asco de ti Não me toques!
....- Você me fará muita falta.
....- Minha liberdade...
....Ele, com lágrimas nos olhos e com a cabeça baixa, concluiu:
....- Mas apesar do que sinto, melhor nunca mais nos vermos, nos separarmos de vez.
....Ela se virou, segurou o rosto dele com carinho, olhou seus olhos e disse:
....- Mas apesar do que sinto, não suporto a idéia de viver longe de ti.